quarta-feira, 3 de junho de 2020

Os contornos econômicos da crise e as medidas empresariais

Barômetro Global: Economia sob efeito do coronavírus | FGV
O cenário que desponta em nossa realidade com a manutenção da pandemia do COVID-19 já por um grande período é de incertezas, medo e pessimismo. Isto porque tentar prever os efeitos econômicos da pandemia a longo prazo é, ao fim e ao cabo, um exercício de futurologia. Ainda assim, podem existir previsões a curto e médio prazo, baseadas no comportamento de empresas, consumidores e demais agentes econômicos em relação aos últimos anos. Estas perspectivas, como era de se esperar, são desanimadoras, especialmente no que tange ao crescimento econômico e melhoria de renda no Brasil.

De acordo com a pesquisa divulgada pelo jornal Estadão[1], no primeiro trimestre de 2020, as empresas sofreram uma queda de quase 70% do lucro líquido em comparação com o mesmo período de 2019, influenciada pela desvalorização do real frente ao dólar e pela pandemia. Posto o ambiente de grande dificuldade, o governo tomou medidas econômicas de auxílio a empresas, voltadas à manutenção dos postos de trabalho a fim de amenizar os duros efeitos da recessão econômica.
Para delinear os contornos da crise precisamos, em primeiro plano, entender que 2/3 do PIB da maioria dos países do mundo vem do setor de serviços[2], que abrange o comércio de bens, a prestação de serviços, a administração pública, o setor imobiliário, financeiro, etc. A própria característica deste substrato da economia é de lidar com um grande fluxo de pessoas, os consumidores, e, por esta essência, fica claramente limitado em uma situação de quarentena quando este fluxo necessário de pessoas é reduzido drasticamente a fim de evitar a rápida disseminação da doença. Por óbvio, o impacto abrupto no setor que mais contribui para o PIB do país é sentido em toda a cadeia produtiva: desde a matéria prima até as indústrias do setor secundário. Esta conjuntura exige providências imediatas e efetivas por parte do Estado.
Os planos foram propostos, inicialmente, pelas medidas provisórias 936 e 937 de abril de 2020[3]. A pauta principal de atuação com relação aos empregos formais foi a diminuição da carga horária do funcionário com redução proporcional do salário, este mantido em parceria governo-empresa, evitando uma onerosidade excessiva para o empregador, a manutenção da renda para o empregado e reduzindo a circulação de pessoas no ambiente de trabalho. Esta medida conta ainda com o benefício para o empregado de garantir o emprego pelo dobro de tempo que a empresa usufruir do auxílio governamental, justo para que estas diligências não sejam apenas temporárias.
Outro importante pilar da atuação do governo foram os benefícios creditícios, estes concedidos em parceria com a Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES. Foi também permitido que empresas renegociem o pagamento de dívidas anteriores, bem como melhoradas as condições de financiamento e concessão de crédito pela redução da taxa de juros. Por fim, frisou-se o incentivo a acordos, individuais e coletivos, voltados a suspensão temporária do contrato de trabalho no período da pandemia com o governo custeando parte do salário.
Em resumo, constatamos que o governo adotou medidas em 3 planos: pessoas, empresas e os entes federativos, estes últimos com um acréscimo de 16 bilhões a mais no fundo de participação. As providências tiveram, no geral, um caráter emergencial, voltado a surtir efeito a curto prazo e, especialmente, evitar o desemprego e o encerramento em massa de empresas. Contudo, a longo prazo, não houve uma efetiva desoneração tributária das empresas, o que ocorreu foi apenas uma postergação dos impostos em geral para os meses em que se espera uma melhora no consumo, não considerando que muitas empresas terão um balanço negativo neste período e, mesmo assim, o tributo irá incidir sobre a mínima receita bruta que obtiverem.
Se pudéssemos traçar uma perspectiva acerca do comportamento das empresas e os desdobramentos das medidas governamentais chegaremos à conclusão de que os setores que voltarão mais rápido ao mercado serão aqueles associados aos bens de consumo não duráveis como roupas e alimentos. Em contrapartida, o turismo, grandes eventos e feiras de exposições levarão mais tempo, inclusive, para serem liberados pelas autoridades. Precisamos portanto, adotar medidas que, efetivamente, desonerem os custos das empresas e possibilitem que estas permaneçam existindo, gerando riquezas e mantendo os empregos. Aliado a isso, o incentivo ao consumo, por meio de um decréscimo na taxa de juros, deve auxiliar em uma retomada no rumo da economia brasileira.
Um abraço, até a próxima.




[1] Estadão. Alta do dólar pressiona dívida e derruba lucro das empresas em 70% no trimestre. Acesso em: 02/06/2020. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,alta-do-dolar-pressiona-divida-e-derruba-lucro-das-empresas-em-70-no-trimestre,70003321722.
[2] Veja. Setor de serviços sustenta o crescimento do PIB em 2018. Responsável por 75,8% do PIB. Fonte: IBGE. Acesso em: 02/06/2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/setor-de-servicos-sustenta-o-crescimento-do-pib-de-2018/.
[3] Treasy. Blog. Publicado em 9 de abril de 2020. Acesso em: 02/06/2020. Medidas do Governo Federal no Covid-19: confira 9 benefícios destinados às empresas durante a quarentena. Disponível em: https://www.treasy.com.br/blog/medidas-do-governo-federal-no-covid-19/.

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