Vivemos hoje em um país polarizado. A disputa política entre diferentes ideologias marcou época ao longo de toda a história brasileira e, com isso, fica evidente o que sempre guiou a governança nacional: a busca pelo poder. Acontece que a pandemia do COVID-19 inflou esse conflito. O momento delicado pelo qual passamos exige a tomada de decisões rápidas e corretas na medida em que as consequências dessas escolhas podem comprometer a recuperação futura. Contudo, também é evidente que o exercício do poder em situações excepcionais como esta é, de toda a maneira, custoso justamente pelas responsabilidades que ele carrega. Afinal, o que poderíamos fazer diferente?
Em primeiro lugar, cabe desconstruir um pré-conceito de que
toda a “disputa” e “polarização” política é prejudicial para o país. Nesse
sentido, é preciso ter presente que o embate político (ainda que muitas vezes
desleal e banalizado) é o cerne da democracia, uma vez que é justamente este
debate que possibilita a tomada de decisões mais coerentes, justas e
fundamentadas. Ainda de acordo com nossa Constituição Federal: “é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença[1]. Portanto, o confronto de ideias é
necessário, mesmo que signifique colocar em xeque nossas compreensões e
entendimentos em prol de um bem maior.
Dito isso, para entendermos o que o governo (refiro-me as
esferas federais, estaduais e municipais) poderia ter feito diferente em meio à
pandemia do COVID-19, precisamos antes discutir como definir qual a decisão
mais correta. Desta forma, uma maneira de buscar soluções é voltar os olhos
para países que tiveram resultados, contudo surgem as perguntas: o melhor
resultado seria o baixo índice de óbitos? Casos? Ou devemos buscar naqueles que
sofreram um menor impacto na economia? Combinar os dois resultados? É possível?
Todas estas questões não possuem uma resposta totalmente
correta. Busco aqui instigar todos a pensarem sobre os temas e, como já
salientei, debater dentro de seu círculo a fim de tentar construir uma
resposta, afinal este deve ser nosso papel enquanto cidadãos. De toda a forma,
nos parece que o ideal seria combinar bons resultados tanto no reduzido número
de óbitos como no mínimo impacto econômico. Entretanto, a linha é tênue, isso
porque reduzir o número de óbitos passa também por fechar estabelecimentos,
diminuir a produção industrial e reduzir o consumo pela baixa circulação de
pessoas. Da mesma maneira, reduzir os efeitos econômicos negativos significa
reabrir comércios, processos industriais, etc., ou seja, é de todo jeito
difícil definir até que ponto é possível conciliar ambos os resultados.
De acordo com estudos da “Our world in data” desenvolvido por pesquisadores da universidade
de Oxford[2],
que analisa, entre outros temas, as respostas políticas a pandemia do
COVID-19, definindo uma escala acerca do rigor implementado nas políticas
públicas em diversos países no mundo. Os dados encontram-se disponíveis no link ao final do texto (vale a pena
conferir, os mapas são didáticos e de fácil compreensão) e avaliam diversos
segmentos que sofreram restrições governamentais: escolas, locais de trabalho,
eventos públicos, campanhas, viagens, transportes, testagem, monitoramento dos
casos, etc. e apontaram que o Brasil, em
regra, manteve um rigor elevado nas medidas governamentais de combate ao
COVID-19 em relação aos demais países, no entanto, a pesquisa indicou uma menor
eficácia quanto à política de testagem no Brasil e, especialmente, quanto ao
monitoramento dos casos confirmados deixamos a desejar. Vale ressaltar
ainda que, de acordo com a pesquisa, o Brasil é o 11º em número proporcional
de mortes e 20º no número de casos em relação aos habitantes[3],
Bélgica e Reino Unido lideram o ranking de óbitos por milhão de habitantes[4].
Enfim, o que busquei não foi apontar erros e acertos dos
governantes, muito menos sugerir que a situação poderia ser diferente se outras
pessoas estivessem nos cargos de chefia, mas tentar suscitar questionamentos
que, muitas vezes, não fazemos. Portanto, melhor compreender de que forma são
tomadas as decisões governamentais, criticá-las ou apoiá-las é de suma
importância para a democracia e, especialmente, para reforçar nosso papel
enquanto cidadãos.
Agradeço o apoio de todos, até a próxima!
[1]
Art. 5º inciso IX.
[2]
Disponível em: https://ourworldindata.org/policy-responses-covid.
“Respostas políticas à pandemia do COVID-19”. Os dados são atualizados
diariamente. Acesso em: 22/07/2020.
[3]
Disponível em: https://ourworldindata.org/covid-deaths?country=~BRA.
Acesso em: 22/07/2020.
[4]Disponível
em: https://www.jcnet.com.br/noticias/nacional/2020/06/727288-pela-proporcao-de-habitantes--brasil-e-11---no--mundo-em-mortes-e-o-20---em-casos-de-covid.html.
Acesso em: 22/07/2020. Data do ranqueamento: 19/06/2020.
Excelente reflexão, que deveria ser lida por todos os brasileiros e brasileiras! Parabéns Igor!
ResponderExcluirObrigado!
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